quarta-feira, 11 de março de 2009

Linguagem

Adélia Prado uma grande linguaruda!


Adélia Prado é uma escritora contemporânea que de um modo fantástico, tece a arte literária com teologia. Talvez você esteja se perguntando: - Ela faz poesia religiosa? Não! Para Adélia a poesia que é religiosa, sagrada, independente de crença alguma.

“Dado que a existência espiritual do homem é a própria língua, o homem não pode comunicar-se através dela senão nela”

A linguagem é um documento humano profundo, e através da palavra, seja ela escrita ou falada, é possível dar fixação às coisas – vida, morte, crenças, amores, fantasias –.
A nossa Adélia acredita que a linguagem tem como matéria a textualidade divina do quotidiano.

Um dos poemas dela que podemos sentir essas características de forma explícita, é: Antes do Nome.
O próprio título já nos propõe inquietações quanto à linguagem, a escrita e a concretização do “comum” através das palavras.



Antes do Nome

Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o, ”aliás,"
o "o", o "porém" e o "que", esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infreqüentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.

(Adélia Prado)

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